O piracicabano Ademir Barbosa Júnior (Dermes) publicou, no início de julho, o livro O corte – provocações sobre o abate religioso (São Paulo: Selo Pluralidades/Recriar). O livro apresenta uma leitura dialética sobre o tema nas religiões tradicionais de terreiro. De um lado, sua importância como fundamento nos chamados Cultos de Nação e em alguns segmentos de Umbanda e a discriminação e as tentativas de intervenção do Estado na liberdade religiosa do Povo de Axé. De outro, a dificuldade de parcela do Povo de Axé em acolher os segmentos que não praticam o corte e a apropriação equivocada desses fundamentos por parte de alguns segmentos veganos e de protetores de animais.
Nas duas partes (O corte como fundamento/O fundamento sem o corte) buscou-se uma linguagem acessível a todos (religiosos tradicionais de terreiro ou não) e referências precisas, pontuais e dialógicas com o objetivo de municiar o respeito à diversidade. Registro da identidade e da resistência da fé e da espiritualidade vicejante de um povo que, nas palavras do autor, “prostra a cabeça no chão para mantê-la em pé no cotidiano”, o livro é dedicado às Iabassês, “cozinheiras que sacralizam saberes e sabores”.
Material fundamental para o diálogo intra e inter-religioso, conforme as Leis 10.639 e 11.645, em alguns dos parágrafos, o autor analisa a infeliz repercussão nacional do episódio no legislativo piracicabano que buscou cercear a liberdade de culto das religiões tradicionais de terreiro no município, sem dialogar com seus adeptos e muito menos conhecer a dinâmica religiosa e alimentar das comunidades que criam, abatem e consomem animais. “É o infeliz racismo religioso”, argumenta o autor. “Não se vê a mesma postura com as características específicas do abate e consumo de carne feito por muçulmanos e judeus, por exemplo”, complementa.
Ainda segundo o autor, nesse mesmo episódio, foram utilizadas fora de contexto e de modo equivocado referências dos segmentos de terreiro que não praticam o corte, o que o levou a se manifestar na imprensa local.
Assim que foi anunciado o lançamento, não apenas religiosos tradicionais de terreiro, mas pesquisadores de áreas diversas do Brasil e de Portugal encomendaram exemplares. “Espero que o livro contribua para o diálogo. Quer conhecer o porquê se corta ou não se corta na Umbanda e no Candomblé? Pergunte aos sacerdotes da religião em vez se prender a acusações do senso comum”, sugere o autor, que já publicou dezenas de livros (alguns com traduções para vários idiomas) e tem uma série de lançamentos agendados ainda para este ano. O livro pode ser encomendado diretamente com o autor, pelo WhatsApp: (19) 99706-4603 ou em livrarias.
Ademir Barbosa Júnior (Pai Dermes de Xangô) é dirigente da Tenda de Umbanda Caboclo Jiboia e Zé Pelintra das Almas (Piracicaba). É Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde se graduou em Letras, professor e terapeuta holístico. Já coordenou fóruns, eventos, festas públicas e outros, congregando Umbanda, Candomblé, Pastoral Afro (Igreja Católica), MPB, Ioga, Dança do Ventre e outros segmentos.
Religiões de terreiro: autor piracicabano publica livro sobre abate religioso
17 de julho de 2020