O agro é uma chave para o futuro

Xico Graziano

 

Está aumentando a importância da agropecuária na economia brasileira. O fato contraria a teoria clássica. Pois em vez de significar uma volta ao passado, o Brasil encontrou no agro um caminho para o futuro.

Dois indicadores macroeconômicos comprovam a valorização recente do agro nacional: o desempenho das exportações e o crescimento do PIB setorial.

As exportações oriundas do agronegócio somaram US$ 31,4 bilhões no 1º quadrimestre de 2020, acréscimo de 5,9% sobre igual período de 2019. Considerando-se a média dos quatro primeiros meses, as exportações do agro representam 46,6% da exportação total do país. Em maio, somente, essa fatia de participação alcançou 55,8%. Incrível.

Por sua vez, as importações do setor de agronegócio caíram 4,5% no quadrimestre, somando US$ 4,57 bilhões. Resultado: o agronegócio gerou superávit na balança comercial de US$ 26,83 bilhões nos primeiros quatro meses de 2020. A receita do agro paga as compras externas do país.

Quanto à geração de valor, os estudos do Cepea-USP mostram que, no ano de 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio subiu 3,81%. No mesmo período, anual, segundo o IBGE, o PIB brasileiro total cresceu apenas 1,1%. O agronegócio empurrou a economia nacional.

Nesse 1º trimestre de 2020, o PIB do agronegócio continuou crescendo, chegando a 3,29%, comparado com o mesmo período de 2019 (Cepea-USP). Já o PIB nacional caiu 0,3% (IBGE). Esses dados indicam que está crescendo a participação do agronegócio no PIB total do Brasil. Em 2019, o PIB do agronegócio sobre o PIB brasileiro cravou 21,4%. Esta é a fatia da riqueza brasileira gerada a partir da produção rural.

Mas, atenção: falar em “agronegócio” significa considerar todo o complexo, ou seja, a soma das cadeias produtivas situadas antes, dentro e depois da porteira das fazendas. E não a produção rural per si. É fundamental entender esse ponto. A importância da agropecuária não se mede mais, como no passado, apenas pela atividade econômica existente dentro das propriedades rurais. O conceito de agronegócio é mais abrangente. Mais moderno e correto.

Na metodologia do Cepea-USP, o agronegócio está composto por quatro segmentos produtivos relacionados entre si, cujas participações são (2019): Insumos (rações, fertilizantes, máquinas, defensivos, medicamentos), com peso de 6%; Primário (lavouras e pecuária), com peso de 22%; Indústria (frigoríficos, lacticínios, usinas de açúcar, celulose, torrefação de café, etc), com peso de 30%; e Agrosserviços (assistência técnica, transporte de cargas, varejos, restaurantes, finanças, propaganda, exportação, etc), com peso de 42%.

Resumindo, para fixar o conceito: a produção rural, propriamente dita, representa apenas 22% do valor agregado do agronegócio. O processamento industrial e os setores de serviços, relacionados ao agro, preponderam, com 72% do agronegócio.

Percebam que exclusivamente o setor primário rural, aquele praticado dentro das fazendas, tem baixa participação no PIB nacional, ao redor de 4,7% (basta multiplicar 0,22 por 21,4%). Quando, todavia, considera-se a somatória de atividades que dependem da produção rural, ou são por estas movimentadas, fica claro que a agropecuária tecnológica dinamiza e multiplica a renda de vários setores econômicos. Gera renda e empregos espalhados pelo país.

Esse raciocínio, fundamentado nas variáveis macroeconômicas, vislumbra que o agronegócio poderá se tornar o maior negócio do Brasil. Fará parte do modelo de desenvolvimento. Participará do núcleo da política econômica.

Acreditem. Descubram. O agro é uma chave para o futuro.

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Xico Graziano, engenheiro agrônomo, doutor em Administração, professor de MBA na FGV e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

 

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