Nowhere Man

Paulo de Tarso Porrelli

 

Ser além fronteiras é saber que mora na alma a eternidade; mãe da liberdade, filha da fé. Pensar assim vem, não é de hoje, acalentando o meu existir neste planeta pandêmico.

Onde nasci ainda há gente insistindo naquela conversa mole de: ‘de qual família você é?’ Deselegante maneira essa de ‘acolher’ alguém que chega até você, não é?

Bem! A literatura e a música lapidam a minha incessante busca por apurado know-how técnico. E nesses dias obscuros soou suavemente aos meus ouvidos, pela Eldorado/Estadão FM de São Paulo, uma das lindas canções dos Beatles (todas são belas) – “Nowhere Man”. Num dos trechos eles cantam: “knows not where he is going to. Isn’t he a bit like you and me?” Em tradução aberta: “não sabe aonde ele está indo. Ele não é um pouco como você e eu?”

O fato é que todos nunca saberemos para onde estamos indo ou de onde viemos, isso não importa – com todo respeito à ciência. Contudo, não é em vão que cá estamos. Tudo é efêmero e a dura verdade é que o que pouco fizemos ao longo da história das civilizações foi viver o agora frutiferamente – semeando o bem fraterno com espírito comunitário.

E deu no que deu. Tamanhos egos e ganâncias nos transformaram no que somos; pessoas ora com medo dum vírus microscópico, resultado de comportamentos fétidos, sem o mínimo princípio básico de higiene na maioria das vezes. Um bando de metidos a sabe-tudo, escondidos atrás de títulos e cargos. Passamos anos alimentando usinas de diplomas e MBAs, em escolas e universidades que ensinam arrogantemente a competir e a gerar lucro pelo lucro. E, queiramos ou não, tais modelos socioeconômicos faliram. A geopolítica terá de ser redesenhada com equanimidade, se quisermos salvar a Terra.

No meio das verborragias dos parlapatões de plantão, tomo a liberdade de transcrever logo abaixo algo plausível que li nesta semana via LinkedIn e que me fez enxergar feixes no fim desse interminável túnel, sobremaneira nesses dias de profundo caos.

O texto é assinado por James Quincey – Chairman e CEO da Coca-Cola Company:

“Não há lugar para o racismo no mundo e não há lugar para o racismo nas mídias sociais. A Coca-Cola Company vai pausar sua publicidade paga em todas as mídias sociais globalmente por, pelo menos, 30 dias. Vamos usar esse tempo para reavaliar nossa política de marketing e determinar quais revisões serão necessárias. Também esperamos mais responsabilidade e transparência de nossos parceiros em mídias sociais.”

Que assim seja dentro e fora das mídias sociais, tudo precisamente às claras, pelo amor de Deus. Esse hiato nos está sendo dado, para entendermos de uma vez por todas que o talento moldamos na solidão e o caráter na convivência. É questão puramente de trato humano.

Tomara mesmo que decisões de vanguarda permeiem todas as partes. Chega de políticas palacianas. Aliás, para que tantos partidos como neste Brasil analfabeto? Nem há ideologia ou filosofia para tanto. O patrimônio público, a começar pelas escolas, está ruindo. Nosso saneamento básico é um fiasco. Precisamos de minimalismo sobretudo na cena política.

O meu pai morreu faz 51 anos e já lá na década de sessenta ele dizia que “chegariam dias nos quais teríamos dinheiro, mas não o que comprar para comer.” Vale também afinar o foco sobre uma inversão racional do êxodo rural.

Sucesso não é fama, é fruto de trabalho comprometido com a posteridade. E “o trabalho…, como já disse Gibran Khalil Gibran, …é o amor feito visível.”

Comecei com Beatles e com Beatles finalizarei: “All we need is love.”

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Paulo de Tarso Porrelli, escritor e jornalista

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