Os esquecidos da Revolução de 1932

Edson Rontani Júnior

André Manoel da Silva

 

Heróis anônimos também são relembrados por sua dedicação à Revolução Constitucionalista de 1932. O embate iniciado em 9 de julho, encerrado em 2 de outubro daquele ano, deixou um Estado comovido, combalido e perpetuador dos ideais democráticos. São heróis que compuseram os quase 100 mil voluntários que empunharam armas, cerziram fardamento, prepararam alimentações… enfim, prestaram um serviço inestimável a São Paulo que clamava por uma Constituição mais atualizada, descentralizando o poder das mãos do presidente Getúlio Vargas. Este ano, o 9 de Julho não foi feriado. Foi antecipado por determinação estadual para semanas antes, na finalidade que todos ficassem em suas casas, evitando o contato social para não disseminar o covid-19.

Dentre os heróis anônimos que causam polêmica está Orlando de Oliveira Alvarenga. Anônimo por conta da história que não o incluiu na sigla MMDC, simbolizando a sociedade secreta que delinearia a Revolução Paulista de 1932 e que depois se transformou em a Sociedade de Veteranos em prol dos que lutaram por São Paulo.

Cabe lembrar que, em 1932, a capital paulista vivia momentos de tensão, com manifestações, greves e passeatas.  Na manhã de 23 de maio de 1932, uma reviravolta com partidários varguistas hostiliza os manifestantes. O Centro de São Paulo se transforma em verdadeiro caos. Na praça da República, precisamente na rua Barão de Itapetininga, insatisfeitos tentam invadir a sede do Partido Popular Paulista, um dos braços da Liga Revolucionária, que apoiava a figura de Vargas. Entocados, estes passam a disparar incessantemente, matando os quatro M. M. D. C.: Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antonio Camargo de Andrade.

Nesta ação, várias pessoas são feridas, incluindo Orlando de Oliveira Alvarenga, que resiste por semanas, vindo a falecer em agosto seguinte. Alvarenga passou a ser imortalizado após seu falecimento já ao final do levante popular. Por décadas seguintes, historiadores e políticos tentaram legar à eternidade sua participação em 32. Atuante como escrevente, nasceu em Muzambinho, Minas Gerais, em 18 de dezembro de 1899, filho de Ozorio Alvarenga e Maria Oliveira Alvarenga. Muito sofreu sua esposa Annita que acabou criando sozinha o filho Oscar.

Alvarenga, que morreu poucas semanas antes do armistício assinado em 2 de outubro, não teve seu nome associado ao movimento. O MMDC (que para alguns é MMDCA) representava uma organização civil clandestina, que, entre outras atividades, oferecia treinamento militar. Foi responsável pela campanha de alistamento voluntário, iniciado em 10 de julho, em diversas cidades do estado.

Alvarenga também é perpetuado com uma rua na capital paulista no bairro Butantã. Em janeiro de 2004, foi promulgada a Lei Estadual 11.658, denominando o dia 23 de maio como “Dia dos Heróis MMDCA”. O governo estadual criou o “Colar Cruz de Alvarenga e dos Heróis Anônimos”. Assim como ele, milhares de paulistas foram à luta armada e tiveram seu nome legado à eternidade.

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Edson Rontani Júnior e André Manoel da Silva, membros do IHGP (Instituto Histórico de Piracicaba)

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