Patéticos, empáticos e santarrões

Camilo Irineu Quartarollo

 

Santos, loucos e médicos aparecem em momentos aflitivos, como uma pandemia e de quem perdeu alguém representativo como pai, mãe, irmão, amigo.

De santo e louco todo mundo tem um pouco é um dito popularesco, aceito e aplicado a pessoas aceitas, mas que não têm o mesmo foco racional do grupo ou da razão.

Na história houve muitos assim, cristãos ou não, crentes ou ateus também. Como somos de herança cristã romanizada, ocidental, logo assimilamos alguma figura dentro de um estereótipo de altar, mas quem são?

Ontem uma amiga minha, em plena pandemia, estava ocupada, disse-me remotamente, levara uma velhinha ao médico e, agora que almoçaram juntas, ia leva-la a casa. Isso que é coragem, não a que o presidente vive alegando em causa própria. Eu tenho bem menos coragem que ela, talvez até tenha de peitar o presidente.

Santos nunca foram respeitados em vida, são como o próprio fundador do cristianismo, sinal de contradição, aliás, nosso fundador e fundação de fé, não era aceito em Nazaré, e sua mãe e irmãos estavam a vê-lo, mas ele praticamente os expulsa (passagem bíblica que cada um explica a seu modo) – fato que ele complicava a imagem politicamente correta com suas andanças entre pobres e doentes.

Meu onomástico, pessoa de mesmo nome, São Camilo, não eu com certeza, aparece na peste da Europa, no século XIV, com seus companheiros avançam sobre as cabanas trancadas por fora para conter a peste e serem queimadas com os seus moradores, avançava e os retirava do lugar para cuidados. O que lhe rendeu o apelido de santos dos doentes.

Há um humanismo e uma paixão pela vida nessas ações das quais os fazem assemelhar a deuses, no caso de monoteístas, de deus com a primeira maiúscula.

Quando se conta a vida de determinado santo, os hagiógrafos fazem isso, enaltecem a virtude e a exageram, como se o santo fosse totalmente louco de amor e não tomasse medidas profiláticas. Não é verdade, o próprio mestre da galileia em meio a pandemia de lepra e outros males contagiosos, não a pobreza (tem gente que tem medo que pegue), cuidavam-se na medida do possível, eram santos mas não suicidas. Na época dos evangelhos os fariseus eram mais como nós, sim, medrosos da contaminação que se iguala a pecado, a falta de higiene trazia muitos males.

Francisco parece ser o mais louco dos santos, isso contado nos livros, pois para a Igreja e Ordem religiosa nascente era mais importante a virtude de exemplo aos seguidores da loucura que o fato em si. Dizem que beija os leprosos, ou beijou. Não sou especialista em histórias de santos, embora crítico, alguns conjugam o verbo no costumeiro, beijava, quando na verdade deve ter tido aproximação mais corajosa e prestado ajuda por amor à humanidade de outrem.

Quem são os santos? De que religião são, etnias, creem em d(D)eus? Somente a vida nos dá essa resposta na arte do encontro com os outros e conosco mesmo, ora na quarentena ou no visor de máscaras a vida nos chama para dentro, até na oração de gemidos inexprimíveis.

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Camilo Irineu Quartarollo, Escrevente e escritor independente, autor de A ressurreição de Abayomi, dentre outros

 

 

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