A cólera dos imbecis

José Renato Nalini

 

Georges Bernanos foi um pensador francês muito ligado ao Brasil. Aqui ele passou sete anos, de 1938 a 1945, escrevendo e deixando um legado que permanece atual. Como o seu livro “A França contra os robôs”, escrito exatamente ao final da II Grande Guerra, quando não se falava em Quarta Revolução Industrial, nem a robótica era o assunto do momento.

Ele já escrevera no livro “Os grandes cemitérios sob a lua”, que a cólera dos imbecis ameaçava o mundo. E continuava no livro dos robôs, que ela persistia a devastar a terra: “É mil vezes mais temível que a dos hunos ou vândalos. Os hunos e os vândalos queriam ouro, vinho, mulheres e grandes cavalgadas sob as estrelas. Já os imbecis não sabem o que querem”.

Ou será que sabem? O problema é que “estar informado sobre tudo e condenado, assim, a não compreender nada, esse é o destino dos imbecis”. Imbecis que proliferam e que contaminam outros imbecis. Mais perigosa do que a Covid19 é a imbecilidade. Para Bernanos, “a mais temível das máquinas é a máquina de entupir as cabeças de lorotas, a máquina de liquidificar cérebros”. O instrumental especializado em fanatizar. Hábil em tornar as pessoas cegas, incapazes de enxergar o óbvio e de recobrarem a razão.

Como não enxergar o que se faz com a natureza, dizimada pela inclemência ignorante dos homens? Como deixar de perceber a edificação de muralhas que separam seres humanos, empurrando para a legião dos excluídos, dos miseráveis e dos invisíveis vastas camadas da população?

Como levar a vida na rotina costumeira, enquanto se assiste ao descaso a que se relega a educação, única chave para abrir o Brasil para um futuro menos indigno? É natural que criaturas da mesma espécie vivam sem saneamento básico, sem moradia, sem condições de subsistência, enquanto se destinam bilhões a Fundo Partidário e a Fundo Eleitoral?

Será que é civilizado investir em armamentos, recomendar à população que tenha armas e acumule munição, enquanto grande parte dela não tem o que comer?

Outras pandemias virão e atormentarão a Humanidade. Para elas há vacina. Mas para amainar a cólera dos imbecis que, além de tudo, são violentos, agressivos, intolerantes e ruidosos, talvez nunca se descubra remédio.

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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL)

 

 

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