A caminho de uma “dinastia democrática”

Walter Naime

 

No que resolvemos batizar de “dinastia democrática”, onde os mandantes governamentais não deixam para os familiares a sua herança de governo, mas tentam deixar nas próprias mãos ou na dos elementos partidários onde fica sempre na retaguarda como coluna principal exercendo o poder indiretamente.

Assim a frase “No time que está ganhando não se mexe” passa a ter uma eloquência forte, mas não absoluta, pois dentro de um espaço de tempo razoável a frase “Já deu o que tinha que dar”, vem com um som surdo de exigência de renovação.

A vontade de renovação faz parte do espírito humano, e até o que é bom de mais passa a ser enjoativo.

Para isso basta imaginar, qualquer ser humano banqueteando todos os dias, ou com o contraditório comendo um sanduíche de mortadela todos os dias para matar a fome, passa a ser cansativo.

Com todos os aplausos aos times que estão dando certo, pois ao ser bons arrumadores da casa devem se considerar satisfeitos caso não consigam mais arejar o sistema administrativo, pois daí pra frente começa a ser enfadonho pela mesmice dos seus modos de operar, tirando a oportunidade à renovação. Caso contrário quando surge um desejo da população e vindo de encontro a alguém que possa oferecer esse desejo, é aceito em qualquer tempo.

Nas monarquias onde tudo era feito para que o poder não saísse do domínio familiar se espalhando para os amigos do rei a fim de se perpetuarem as vantagens do corporativismo tudo era válido. Nesse conceito a sombra da traição entre os parentes se apresentava como condutora das injustiças e se aliava ao alfanje da morte para amedrontar e anular o futuro do “poderoso seguinte” quando não apresentasse condições de comando. Era uma “briga de foice” como se diz popularmente.

Já na “dinastia democrática” notamos que a mesmice, com todas as coisas boas substituídas por resultados piores é aceita com tolerância por intervalos de tempos.

Viver onde tudo já foi resolvido e funciona direitinho pode trazer algumas situações, que atuando na população, leva seus elementos a não encontrarem mais o sentido da vida. Nesses locais notou-se que os índices de suicídios se elevam.

À primeira vista, o que dissemos é um paradoxo, mas acontece.

Nunca vamos nos contentar com o estado das coisas como se apresentam, porque a necessidade de crescimento é uma constante econômica, para a sustentação do sistema.

No medidor de intensidade das reclamações humanas, só temos a esperança de que os mandantes tenham um senso de justiça mais apurado para direcionar os “erros de percurso” de uma forma a não repetir o que já se conhece, e com mais sensibilidade humana, transforme o viver mais fácil, porque assim a “dinastia democrática” poderia ser justificada prevalecendo o direito de continuidade por falta dos que deixaram de fazer o que deviam por comodidade ou conformismo. Neste caso vale a frase “deixar como está para ver como fica”.

Que a caravana se torne auto modificável no seu caminhar para os novos dias, puxada pelas forças fracas de propostas de outras fontes!

Não podemos retroceder, pois quaisquer que sejam as dinastias não são recomendáveis.

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Walter Naime, arquiteto-urbanista, empresário

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