Pós-verdade e fakenews

Camilo Irineu Quartarollo

Qual é a verdade? Escolha uma! O bombardeio de informações traz um mundo, no qual antes a verdade era passada pelos nossos pais e mestres, religiões, etc. Hoje, no mundo líquido e incerto, a mídia traz muitas dúvidas e fluem grupos apegados a sua bolha de verdade, à sua frase de efeito, ao simplismo digital. Se a verdade couber nesses conceitos pessoais servirá, é aceita, uma “ideologia para viver” – diria Gazuza, depois que seus “heróis morreram de overdose”.
Um mundo bizarro, no qual nós humanos ao reclamarmos fazemos “mimimi”, mas os que têm poder de fala e choram, o fazem porque são “humanos”. Há a intencional apropriação de certas verdades pelo viés da fakenews e as usam como “liberdade de expressão” – como se fosse uma escolha de uma verdade, que assume papel de indignação, ódio, violência, difamação, injúria, apologia a outras ilicitudes.
A frase roubada da boca de Jesus de que “a verdade vos libertará” é algo tão fluido como o rol de propostas para incitar o rebanho de eleitores sem imunidade, sem a vacina da Educação, o corpo oco de uma ideologia eivada de preconceitos latentes. Na verdade, como numa hipnose, não importa muito o que se diz, frases de efeito na manada, conhecidas e repetidas com imagens, que conduzem o hipnotizado a achar que doce é salgado, que fogo é água e ditadura é democracia.
Assim, o mundo atrasado vive em bolhas, nem chega à superfície da realidade, flutua escolhendo uma na religião, na política de p minúsculo, na fantasia (não que tais sejam necessariamente fantasia); como a liberdade, ou como se a libertação pela verdade fosse algo etéreo, e, ouço afirmar, que na boca do nazareno era bem mais concreta e cotidiana, pois a mentira é trabalhosa e prolifera como o Corona vírus. Enquanto o Corona está na relação de um para dois, a mentira pode ir de um vírus anônimo a milhões e ter sua letalidade de trinta por cento.
A mentira entra pelos olhos, ouvidos, mesmo na quarentena ela chega através de ondas à sua TV, celular – e a vacina contra a fakenews? Só tem uma: Educação (e maiúscula).
Muitos estudos no mundo todo sobre fakenews, mas no Brasil, creio que o Supremo Tribunal atuou no seu ponto nevrálgico, o dinheiro, o investimento de pessoas e empresas nesse tipo de crime, aproveitando-se da pós-verdade, ingenuidade e ignorância crônica, falta de debate e salutar discussão.
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Camilo Irineu Quartarollo – Escrevente e escritor independente, autor do livro A ressurreição de Abayomi, entre outros.

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