Pandemia e necessidade de resgatar a nossa deusa Héstia

Alessandra Cerri

 

A mitologia, considerada por muitos uma espécie de religião, estuda e influencia as questões humanas desde o século V a.C. Suas muitas histórias são significativas para o entendimento do comportamento humano e ainda se fazem muito presentes em nossas vidas, seja por meio dos dos inúmeros filmes baseados nos contos mitológicos, seja em nossas variadas expressões usadas cotidianamente ou ainda, sobre os estudos de nossa personalidade que certamente encontrará resquícios nessa sabedoria milenar.

Dentro das histórias mitológicas, os grandes deuses e deusas passaram por muitas guerras e períodos de caos e, nesses momentos o comportamento e o enfrentamento de cada um dos personagens envolvidos pode nos servir de ensinamento e inspiração.

De acordo com a escritora Jean Bolen (1990), doutora em psiquiatria e grande estudiosa das deusas mitológicas, toda mulher pode receber a influência das muitas deusas e, em determinados momentos essa mulher pode priorizar as características de uma deusa específica para se fortalecer numa fase de maior dificuldade.

No atual momento de caos… de pandemia… um dos maiores desafios para a mulher (e para os homens também) é preservar sua saúde mental diante de tanta ansiedade, angústia e incertezas. E dentro desse cenário, uma deusa, em especial, tem muito a nos ensinar.

Héstia (mitologia grega) ou Vesta (mitologia romana) conhecida como deusa do templo, ou da lareira (fogo) tem como principal característica o equilíbrio emocional e a harmonia em função de sua grande capacidade de interiorização  mesmo diante do caos. Por isso, sua representação está na lareira, que tem o poder de aquecer e iluminar um lar.

Hestia era filha primogênita dos grandes deuses Reia e Crono (deus do tempo). Seu pai, Crono, com medo de perder seu reinado e poder para algum filho, decide engoli-los. Nesta ação, Héstia foi a primeira a ser engolida e, segundo Bolen, a última a ser vomitada, significando que ela teve que ficar um bom tempo convivendo consigo mesma, num ambiente inseguro e com um futuro desconhecido.

Héstia é marcada por muita confiança (fé) e grande conscientização de si mesma. Isso implica em grande auto – conhecimento e de acordo com Kathelen Sears (2015), possibilita que ela seja uma pessoa serena, com controle de seus impulsos, não deixando que tumultos e conflitos externos a abalem.

Num momento como o que estamos vivendo de grande estresse e insegurança resgatar as características de Héstia é primordial para diminuir nossa vulnerabilidade emocional. Esse resgate da nossa Héstia envolve aumentar nossa consciência do agora, melhorar nossa capacidade de interiorização e espiritualidade. Essas habilidades podem ser desenvolvidas por meio de atividades que nos possibilitem estar no momento presente como meditação, atividades do lar como arrumação, decoração, cozinhar, jardinagem, dança, costura, bordado, oração entre outras.

O caos que estamos vivendo vai passar. Dias melhores virão. Mas enquanto isso, vamos ficar atentos à necessidade de nos proteger emocionalmente, de ´acender´ a nossa lareira interna para que possamos iluminar e confortar nossa própria casa. Para que possamos esquentar nossa fé no amanhã.

Nunca o ser humano foi tão obrigado a pausar sua vida e olhar para dentro de si como agora. Conforme já nos disse Jung “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Despertemos para a necessidade de mudanças tanto individuais como coletivas. Não podemos sair de um momento histórico como esse do mesmo jeito que entramos. Até a próxima.Namastê!

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Alessandra Cerri, sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap); mestre em Educação Física, pós-graduada em Neurociência e pós-graduada em Psicossomática.

 

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