Psicanalista explica a terapia da Constelação Familiar

Erika Vallim, psicanalista, explica a fundamentação do termo e como pode gerar a reconciliação familiar – Crédito: Divulgação

Aprender a se autoconhecer e a identificar o autoconhecimento através das relações familiares não são tarefas fáceis. Esse método terapêutico, mais conhecido como “Constelação Sistêmica”, foi o tema abordado na última live realizada pelo Instagram do Parlamento Aberto, na quarta-feira (10). Erika Vallim, que é psicanalista, explicou a fundamentação do termo, suas características, aplicações no dia a dia e a forma como pode gerar a reconciliação dentro das famílias.
Elaborado pelo alemão Bert Hellinger, que foi padre durante muitos anos e trabalhou como educador e membro de uma ordem missionária católica. Ele conheceu os povos zulus, na África do Sul, quando estudou o comportamento de diversas pessoas, buscando similaridades e categorias comuns para formar os conceitos do método.
De acordo com Erika, o objetivo de Hellinger era estudar a consciência do ser humano, baseada naquilo que sempre teve de orientações, ou seja, a família. Ela citou que o filósofo nomeou como “consciência pesada” aquela que o ser humano tem quando realiza algo diferente do que sua família te ensinou, e a “consciência leve”, quando segue o mesmo caminho. “Ele diz que essa relação com a família é a mesma coisa da lei da gravidade, ou seja, querendo ou não você está dentro dela”, contou.
Diante dessas percepções, Hellinger chegou às conclusões de que há três princípios, as três leis naturais, que permeiam as relações: pertencimento, hierarquia e equilíbrio. Erika reforçou e explicou que o pertencimento é a lei que está mais presente na fase em que o indivíduo está no ambiente escolar, ou seja, quando começa a ter o contato com outras pessoas além das relações que já possuía no ambiente familiar. “Nós vamos reproduzir algumas coisas que está dentro do nosso sistema, achando que é a única verdade”, contou.
Já a lei do equilíbrio, é a que define as relações com base no que se dá e no que se recebe, ou seja, se é dado carinho, se espera o carinho de volta, por exemplo. E, por último, a hierarquia, que como o próprio nome diz, é a ordem, do que vem primeiro e depois. Obedecer aos pais, irmãos mais velhos, respeitar a lei de nascimento.
Reforçando esse último tópico, a psicanalista exemplificou com a questão do aborto, independentemente de como ocorreu, que está ligado ao equilíbrio da família. Segundo ela, a exclusão da vida gerada vai trazer algum sintoma em alguém da família. “Há casos que já atendi em que a mãe reclamou da filha ansiosa e não entendia o porquê. Com a constelação sistémica fui mostrando que a filha tem que entender a ordem e que essa criança inconscientemente sentia alguma coisa, e, por isso, não conseguia fazer as outras coisas. Depois de entender que ela teve um irmão antes dela, e que não sobreviveu, ela melhorou muito”, contou.
Outro ponto também exemplificado por Erika foi a questão do pertencimento, que pode estar ligado também à genética, muitas vezes nem conhecida pela pessoa, que replica algumas situações. Segundo ela, esse é um estudo da epigenética. “Por exemplo, o alcoolismo, além dos fatores do vício, pode acontecer na família de um tio no passado ter sido excluído por ser alcoólatra. Muito provavelmente um neto ou sobrinho pode vir a passar por isso também para que a família o inclua na família. A constelação é para isso, é para incluir aquilo que foi excluído”, contou.

DEVO CONSTELAR? 

Segundo a psicanalista, para decidir se é necessário fazer esse tratamento terapêutico, as pessoas tem que notar as suas próprias necessidades. Erika citou que as doenças, conflitos internos, estar “fora do seu lugar” e descontente com a vida são os principais sintomas para fazer a constelação sistêmica.
Ela reforçou que a constelação não deve ser algo corriqueiro, que acaba se tornando crucial na vida das pessoas, mas sim uma postura para ser adotada para o resto da vida.
“A pessoa deve estar disposta a querer fazer acontecer. Com isso, nós acabamos entrando em concordância com o que foi feito, ou seja, não questionamos as ações e a educação que os nossos pais nos deram e sim simplesmente concordamos. Isso é olhar para frente. Não podemos esquecer que nós somos sonhos dos nossos ancestrais, portanto, não cabe a nós julgar”, disse.
Erika alertou que isso também deve ser exercido dentro da escola, por exemplo, para que os pedagogos entendam que não ocupam um lugar de julgar e buscar um “exemplo” na família para a ação daquela criança, mas sim entender a sua situação e respeitar. “A constelação faz com que pratiquemos exercícios de correções, para que encontremos o problema. É um exercício de amor”, reconheceu.
Para tirar dúvidas, a psicanalista deixou seu perfil no Instagram Erika Vallim para que as pessoas entrem em contato.

CONTEÚDO

As lives do programa Parlamento Aberto são realizadas no perfil do Instagram, que pode ser acessado em @parlamento_aberto. As entrevistas também podem ser acessadas no canal do YouTube do Departamento de Comunicação da Câmara de Vereadores. Para receber as informações do programa Parlamento Aberto direto no celular, é possível cadastrar na lista de transmissão do WhatsApp, no link.

1 comentário em “Psicanalista explica a terapia da Constelação Familiar”

  1. No momento o que não consegui compreender é se essa “reconciliação familiar” garanta a auto-reconciliação. Suspeito se isso possa acontecer. Segundo às leis propostas, que me parecem justificáveis, entender a posição da parte que nos cabe na família ajuda a entender do porquê estamos no mundo, promovendo até mesmo uma perspectiva breve do que fazemos. Mas será que não torna mais complexo o entendimento de quem somos? Num mundo arrebentado pela violência, medo, censura, descrença nas religiões, materialismo irrefreável sobre os comportamentos, da perda do valor da cultura, substituida por produtos de massa, a vulgarização dos sentimentos, liberação da barbárie nas emoções, tenho dúvidas se o esforço em resgatar, realinhar e reajustar dores e traumas do passado de nossos ancestrais com as nossas próprias dores e traumas apenas transfira essas vibrações para um novo campo em desequilíbrio, já que se considerarmos que para existirem “constelações múltiplas” foi preciso que existisse a primeira-original, e é nessa fonte possivelmente inacessível, que deveríamos ter acesso para o mundo em que vivemos ter alguma chance da reconciliação universal. Se somos parentes, toda a humanidade é parente em si. Como posso do fragmento reequilibrar todo um gigantesco, infinito e inacessível sistema? É só o meu sistema que devo redefinir, o unico que me importa? Receio que o ambiente social desajustado e decadente como o nosso, em total desarmonia com as “ordens” propostas pela constelação familiar produza ainda mais sofrimento para o costelado, mas se por acaso esse se sente melhor consigo mesmo, apesar da criminalidade e da vulnerabilidade que cada vez aumentam sobre o tecido social, conseguir tocar sua vida não seria tão mal assim, mas por outro lado, como em todas as constelações, há estrelas que não existem mais, apesar do seu brilho, portanto, do que se trata a “constelação familiar”, das estrelas possíveis ou das impossíveis? Se for das possíveis creio que seja do encontro das pessoas durante a constelação o grande propósito dessa terapia. Dessa forma se justificaria todo o esforço do constelador em reunir um público capaz de simular o que não mais existe, mas insiste em existir. O problema é se deixamos ao desconhecido a desordem que causamos nos sistemas alheios. Muito Obrigado por sua atenção.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima