Juventude: quem sabe faz a hora

Adelino Francisco de Oliveira

 

De todas as catastróficas consequências que se colocam como desdobramento do dramático cenário social brasileiro, com a ascensão ao poder de um projeto neofascista de sociedade, talvez o que mais se destaque, em uma escala de gravidade, seja a destruição de uma perspectiva de futuro.

O neofascismo, sedimentado em uma visão obscurantista e no negacionismo histórico, procura apagar o passado, criando narrativas que justifiquem o constante estado de violência e perseguição que quer instaurar. Mas também aniquila o presente, com uma postura de aberta violência totalitária, que não tolera qualquer concepção divergente. É evidente que o neofascismo, com seu programa político e econômico de exploração e submissão, não deixa espaço algum para se perspectivar o futuro, com alternativas e possibilidades democráticas e libertárias.

É ilustrativo que o modelo de educação defendida pelo atual governo não contemple a filosofia, nem a sociologia, muito menos as artes. Para a neofascismo, não há lugar para o pensamento crítico e problematizador. Tudo que é mais profundamente humano deve ser combatido, negado e abolido. Só há espaço para uma educação tecnocrata e instrumental, que capacite para as demandas mais básicas do mercado. Por isso a defesa de escolas militares, ensinando tão somente a falsa disciplina, a obediência cega, o marchar no mesmo compasso. Sem criatividade, sem análise social, sem nada.

Quando não há a perspectiva de um futuro, como campo de possibilidades, a vida se reduz a mais pura miséria e opaco vazio. Esse é o nefasto projeto do neofascismo, com seus horizontes estreitos, seu neoliberalismo que avança contra todos os direitos, sem nenhum compromisso com os princípios de justiça e de solidariedade, reprimindo e negando tudo que a vida pode ser: múltipla, bela e pujante diversidade subjetiva. A visão linear, militarizada da educação, que marcha impiedosamente sobre tantos sonhos, quer avançar com suas pautas neofascistas e suas botas sujas, destroçando e arrasando o futuro.

Mas o futuro é, por excelência, o campo aberto para as possibilidades, o tempo prospectado para a juventude. Pensar o futuro como devir, como espaço a ser criado, tomado por esperança e sonhos, é o que alimenta e atribui vigor a todo jovem. A cultura, a educação, as artes, a filosofia descortinam-se como dimensões que desafiam o humano a um constante reinventar-se. Há uma humanidade que pulsa, na latência das existências. A vida que se revela como arte e potência.

Quem sabe faz a hora. Já é tempo da juventude alavancar muitas utopias, abraçando, acalentando um projeto de sociedade que contemple o futuro, como representação de um interessante e aberto devir. O futuro como lugar do bem coletivo. O jovem é vigoroso, tem o peito aberto, a alma sensível, o espírito corajoso. Também, sabe ter empatia, reconhecer a dor do outro, envolver-se na luta que é de muitos, bradar por justiça, sonhar com um mundo adorável, amoroso, afetivo.

A voz forte, ousada e livre de preconceitos do jovem, seu grito firme e enternecido pode conquistar corações, apontando o caminho ético, em um profundo comprometimento com a construção de um mundo melhor, um planeta sustentável. O engajamento político da juventude, em torno de temáticas fundamentais, propõe uma sociedade que se alimenta com justiça social, que se salvaguarda com sustentabilidade ambiental, que se expande com os sentimentos mais profundos de solidariedade e cooperação, que se liberta com a tolerância, o respeito e a diversidade.

É preciso que a sociedade aprenda com os jovens, seguindo seus passos, acolhendo suas propostas libertárias, a desenharem um futuro para as muitas gerações, para todos os povos e etnias, na certeza de que ninguém, absolutamente ninguém, ficará para trás. Que o protagonismo da juventude traga os ventos da esperança utópica – em um mundo livre de todas as formas de opressão e exploração –, vislumbrando uma outra maneira de se fazer política.

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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba, Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião;  adelino.oliveira@ifsp.edu.br

 

 

 

 

 

 

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