Não fique por fora

José Renato Nalini

 

A imersão na Quarta Revolução Industrial deixa perplexa grande parte da humanidade. Outra parte – e não é a menor – enfrenta galhardamente a profunda mutação dos costumes, dos hábitos, da cultura. E aceita, de forma corajosa, os desafios postos pelo advento de tecnologias cada vez mais surpreendentes.

As mudanças do mundo começam pela linguagem. Nada obstante o uso crescente de interjeições, de sinais e de uma espécie de onomatopeia que economiza verbetes, ainda há expressões que ganham espaço no linguajar dos contemporâneos.

A cada ano, elege-se uma palavra ou expressão, para simbolizar o que se disse e sobre o que se falou nesse período de doze meses, que escolhemos para marcar nossa caminhada rumo ao fim.

Em 2018, a pós-verdade e as fake News venciam. Ano passado, a expressão que prevaleceu foi “greve do clima” ou “climate strike”. É uma forma de protesto que teve início há pouco mais de um ano com o protagonismo da pequena sueca Greta Thunberg, mas se tornou movimento planetário.

O termo foi usado pela primeira vez em novembro de 2015, durante a Conferência do Clima em Paris. Mas houve tantas outras manifestações que a expressão foi empregada mais de cem vezes.

“Climate strike” ganhou de algumas concorrentes, como “influencer”, pessoa que promove escolhas de estilo de vida a seus seguidores em redes sociais. São geralmente jovens que ditam modas e costumes que depois passam a ser tribais. Também chegou perto o verbete “cancel”, que significa deixar de reconhecer uma pessoa ou organização publicamente, quase sempre nas redes sociais, para exprimir desaprovação quanto às suas atitudes ou opiniões. Em lugar da “fake News”, surge “deep fake”, uma técnica que sobrepõe imagem ou vídeo digital a outro, mantendo aparência sem edição.

Novidade é a expressão “não binário”, relativa ao gênero ou identidade sexual que não se encaixa nas clássicas categorias binárias de masculino, feminino, heterossexual ou homossexual.

Finalmente, e com um laivo promissor, o verbete “rewilding”, a prática de devolver terras ao seu estado selvagem, incluindo a reintrodução de espécies de animais que foram extintos e já não existem naquele território do qual eram parte integrante.

O Brasil já precisa de “rewilding”, se sobrar solo saudável depois da orquestração de queimadas e derrubada de matas que evidencia a insensibilidade, a ignorância e a cupidez de pessoas que serão severamente julgadas no futuro. Lamentavelmente, já não estarão aqui para purgar seus malfeitos.

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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL)

 

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