Conservadorismo: resgate do bom senso e da ordem

Bruno Bertoco Versuto

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Nos dias atuais temos um grande leque de ideologias e padrões dentro da política. Entretanto, mais um elemento vem sendo inserido com frequência, o qual é conhecido como conservadorismo. Porém cabe compreender. Será mesmo que o conservadorismo é uma ideologia?

Hoje em dia, dentro da mídia tradicional, dos meios acadêmicos e culturais, tem se adotado o adjetivo conservador de maneira simplória para se classificar o ponto de vista contrário àquele que se deseja defender. Trata-se de uso que esvazia o sentido do conceito, tornando-o uma espécie de ofensa cujo conteúdo se adapta às mais diversas perspectivas e lhe transforma em sinônimo de atraso e resistência à mudança. Este uso pouco preciso e honesto, justifica este texto como uma tentativa de lançar luz ao significado do verdadeiro conservadorismo.

Certamente encontramos “conservadores” na direita, assim como encontraremos liberais e libertários. Porém, acredite se quiser, há conservadores na esquerda também. Como então podemos diferenciar ou compreender de quais conservadores estamos falando neste renascimento político no Brasil e no mundo? Ou melhor, como podemos identificar o conservadorismo de fato? Conceituando-o como a expressão de uma cultura de liberdade, respeito aos antepassados e zelo com o futuro das gerações vindouras.

De pronto posso dizer: quem quer conservar algo, por definição, pode ser chamado de conservador. Temos então uma primeira definição. Um sujeito que apenas quer manter algo que o beneficie pode estar sendo conservador. O ditador norte-coreano Kim Jung-un, por exemplo, pode ser apontado como um líder conservador do regime comunista. Porém seu objetivo é conservar o poder que mantém sob sua mão o destino de milhões de pessoas, usando a força de repressão do Estado e tendo como propaganda as ideologias de esquerda radical capazes de aprisionar o povo, transformando-os em escravos sem direito a participação política, culto ou liberdade de expressão e trabalho.

Este tipo de conservação de longe não pode ser relacionado ao conservadorismo filosófico defendido no Ocidente.

Agora, voltando a questão central, o conservadorismo que está renascendo no cenário mundial tem muito mais para proteger e manter do que podemos imaginar e está muito distante de ser um comportamento egoísta e de autoproteção. Dentro deste contexto, suas ações e idéias extrapolam a política partidária e o debate econômico e estão muito além de poderem servir a uma ideologia. Este conservadorismo tem nas suas raízes uma estrutura firmada na tradição, no respeito à liberdade e no cultivo diário dos valores morais da civilização judaico-cristã, e através destes princípios ou fundamentos surge um alicerce forte para que as pessoas se desenvolvam e convivam em sociedade com a melhor harmonia possível, ao passo que ao se depararem diante dos desafios cotidianos, possam vencê-los através de escolhas pensadas e refletidas a luz das experiências anteriores e sem o abandono da justiça e do caminho em direção a verdade.

Umas das principais características do conservador é a de que a relativização da verdade não pode ser aceita. Caso fosse, seria um erro de fundamento que macularia qualquer ação, mesmo que esta fosse nobre ou bem intencionada. Um exemplo, que pode deixar isso mais claro, é ilustrado assim: reconhecer que a miséria material e intelectual pode facilitar a entrada de pessoas no mundo do crime não deve ser motivo para que criminosos sejam anistiados de suas ações. Porque independente do meio em que o agente criminoso se originou, este não tem a concessão de prejudicar outras pessoas sem que sofra as consequências de seus atos. Não admitir esta anistia é fruto da conservação da moral, pois é justamente nesta situação em que uma pessoa que conserva valores morais cristãos deve decidir pela justiça e não pelo crime. Veja que este caminho adotado pelo conservador está diretamente ligado aos ensinamentos do Cristo, que nos diz : amar o pecador mais não o pecado.

Outra característica basilar do conservadorismo é a família, que deve ser constituída tal qual sua origem natural e biológica, a qual é capaz de gerar a vida, ou seja, homem e mulher que se unem para formar outras vidas. Para os conservadores, este núcleo (família) é o bloco principal na construção da sociedade, sendo através dela guardados e transmitidos os valores essenciais para o cultivo da tradição e dos direitos naturais. Não se pode pensar em perpetuar a sociedade sem a família, pois não haveriam assim gerações futuras e mais do que isso, não haveria a transmissão dos costumes e leis naturais as quais formam a amálgama que une uma civilização livre e próspera. Novamente aqui cabe um exemplo: sempre que um grupo de pessoas tentou escravizar ou subjugar outros grupos ou povos, tivemos presente na essência de suas ações a separação de famílias, a destruição de suas histórias e por fim o sequestro de suas liberdades de expressão e defesa. Basta olhar rapidamente para os Estados tirânicos do século XX e XXI, onde o Estado sequestra a educação das crianças usando escolas como centro de doutrinação controla os meios culturais e de comunicação por meio de propaganda eliminando direitos de decisão e autonomia com ações de controle das atividades de trabalho, consumo, defesa e propriedade.

Por último, é oportuno lembrar que o conservadorismo se opõe ao utopismo, o qual é usado frequentemente em ideologias liberais, progressistas (socialistas) e comunistas. Estas ideologias defendem que a sociedade deva cometer sacrifícios malucos baseados em teorias filosóficas sem eficácia comprovada, ou mesmo sem nunca terem sido testadas de forma a mostrar que poderiam ser benéficas. No entanto, o conservador também não é avesso ao progresso, mais este precisa ser alcançado preservando-se a natureza humana, os valores naturais e a tradição que mantém sua identidade e sua transcendência para além do materialismo e do tempo secular.

Ao final podemos então dizer que o conservadorismo não representa uma ideologia, sendo na verdade a representação de um comportamento cultural que, ao invés de apontar para um futuro abstrato e sem data para acontecer, busca nortear as decisões do momento usando como base o aprendizado deixado pelos antepassados através de uma lapidação das experiências humanas, suas éticas, artes, constituições e leis.

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Bruno C. Bertoco Versuto, engenheiro, gerente de Desenvolvimento de Produtos, membro da Comissão Executiva e Gestor de Projetos do Diretório Municipal do PSL em Piracicaba

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