Mais mortal que a Covid-19

Dorgival Henrique e Paulo Roberto Botão

 

O atual presidente do Brasil representa hoje um risco para a sobrevivência do país. Em um momento que exige liderança, unidade e espírito público, Bolsonaro insiste em fazer luta política e ideológica, promover o confronto e provocar instabilidade.

Sua permanência no cargo se tornou impeditivo para o enfrentamento da Covid-19 e, a rigor, poderá ser responsável pela multiplicação do número de mortos pela doença, sobretudo entre os mais pobres, e pela destruição das instituições democráticas e da economia do país.

Sinais claros deste quadro são a sua insistência em combater o isolamento social, impor o uso indiscriminado da Cloroquina no tratamento da doença, e não só estimular como participar de manifestações contra os poderes instituídos. A troca de dois ministros da saúde em menos de um mês é emblemática desta total incapacidade para governar, principalmente neste momento tão grave para a humanidade.

Valendo-se de slogan nazista conclama a população a voltar ao trabalho. Pretende, com seus arroubos, fazer parecer que o colapso da economia pode ser evitado. Com sua dramaturgia ensaiada joga segmentos dos trabalhadores à morte, afirmando sua inevitabilidade e, na sua crença perversa, garantindo a sobrevivência da economia.

Compartilha da ideia maluca de seu ministro da Economia de que parlamentares e oposicionistas estão subindo o número de cadáveres para arrancar recursos do governo, quando é consenso entre as autoridades de saúde que as mortes causadas pelo Covid-19 estão subnotificadas.

Articula parte do empresariado brasileiro para marchar rumo ao STF visando convencer os ministros da necessidade de se abrir o comércio, tentando com isso jogar no colo do Supremo Tribunal Federal a responsabilidade pela recessão que se aproxima.

Vocifera contra jornalistas e responsabiliza a mídia corporativa por descredenciá-lo e desacreditá-lo junto ao povo.

Comporta-se como um psicopata que não sente compaixão pelas vítimas e seus familiares, não derrama uma lágrima e nem envia um abraço de solidariedade, além de encontrar dificuldades para pagar os R$ 600,00 para os desempregados, o seguro desemprego aos necessitados, mas nenhuma dificuldade em transferir bilhões aos bancos.

Cultua a violência produzida e alimentada cotidianamente no Gabinete do Ódio, tendo seus filhos os principais protagonistas no Brasil. Assinala, sempre que possível, seu caráter destrutivo, negativo e odiento contra seus adversários políticos, ao mesmo tempo que reforça suas atitudes irracionais e mentiras deslavadas no ritual do contato quase que diário com seus adoradores.

Cultiva e divulga um autoritarismo conservador que não suporta as minorias que pretende descartar, seja pela sujeição à maioria, ou pela eliminação, e estufa o peito para vender à família patriarcal, como imaginário de família feliz, seu machismo e de seus filhos como virtudes masculinas herdadas de nossa herança colonial.

Ele e seu clã acreditam nos direitos naturais que defendem para destruírem a perversão dos valores democráticos e nos direitos das minorias que os “esquerdistas” deixaram para destruir nossas instituições.

Jair Bolsonaro, à luz do dia e na calada da noite, vinha procurando interferir na Polícia Federal do Rio de janeiro, visando proteger sua famiglia de eventuais denúncias e processos criminosos realizados em suas trajetórias políticas. Pistas, rastros e indícios não foram possíveis apagar, mas há necessidade de obstruir qualquer tentativa de construção de provas.

Vaidoso e preconceituoso se apresenta e tenta se fortalecer como o vírus mais perigoso ao país, envergonhando-o no exterior, amedrontando investimentos produtivos, marginalizando, estigmatizando e perseguindo os mais necessitados.

Quanto mais tempo Bolsonaro continuar na Presidência da República, mais a pandemia se aprofundará no Brasil. É danosa ao país sua militância negativista, aliada às fake news do Gabinete do Ódio e apoiada numa equipe econômica completamente perdida, que continua insistindo na busca de saídas via austeridade e sem um plano amplo e abrangente para enfrentar essa guerra bacteriológica.

O bom combate contra a política neoliberal e as vozes que se levantam contra o aumento dos gastos públicos, mesmo em período de emergência, terá que se intensificar. Esta opção do Governo Federal obriga uma parcela significativa da população brasileira, sobretudo os mais pobres e vulneráveis, a enfrentar a Covid-19 muito mais fragilizada do que estava em 2016.

Conforme alerta o reconhecido sociólogo português Boaventura de Souza Santos, neste momento estamos diante de duas batalhas. “A luta importante é evitar que essa política siga adiante. A luta urgente é impedir Bolsonaro de continuar no poder. As duas estão relacionadas”.

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Dorgival Henrique, professor universitário e ex-diretor da FGN/Unimep; Paulo Roberto Botão, jornalista, mestre em Comunicação Social e professor universitário

1 comentário em “Mais mortal que a Covid-19”

  1. Nivaldo de Souza

    Parabéns professor. Nos lava a alma um comentário tão lúcido, e um pensamento alinhado ao que a grande maioria dessa grande nação acha, a despeito dessa barulhenta e acéfala minoria bolsoafetiva. Fora Bozo!

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