Professora Bebel
A insistência do Ministro da Educação, Abraham Weintraub, em manter as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é um acinte e um desrespeito com os estudantes e a população brasileira. É absurdo que diante de uma situação de pandemia, na qual os jovens não estão tendo acesso ao processo ensino-aprendizagem, vai prejudicar os mais pobres, moradores das periferias, na maioria negros e sem condições de acompanhar o ensino a distância que vem sendo oferecido.
Quanto ao ensino a distância, embora não seja adequado de forma alguma para a educação básica, é incomparável a forma pela qual escolas particulares, que cobram altas mensalidades para atender os jovens filhos das parcelas mais abastadas da população, vem oferecendo conteúdos a seus alunos, com a verdadeira farsa do ensino a distância imposto, por exemplo, pelo Secretário da Educação no Estado de São Paulo.
Esta é a realidade não apenas de São Paulo, mas de todo o Brasil. Se em condições normais de ensino presencial as desigualdades na educação brasileira são imensas, mesmo no interior da escola pública, neste momento elas crescem e se aprofundam ainda mais. A ofensiva de marketing do MEC, com supostos estudantes incentivando os colegas a “estudar de qualquer jeito” é um absurdo. O desprezo pelos estudantes mais pobres é tão evidente que os supostos estudantes aparecem em cena como notebooks e aparelhos celulares aos quais milhões de jovens brasileiros não tem acesso.
Estudar de qualquer jeito pela internet, como diz o Ministro da Educação, só pode ser uma frase que parte de alguém que realmente desconhece a realidade brasileira. Nas favelas e comunidades brasileiras o acesso ao sinal de banda larga é precário ou não existe. Além disso, o custo dos provedores é inviável para grande parte das famílias dos estudantes das escolas públicas. Assim, é preciso considerar que 87,5% dos estudantes do ensino médio no Brasil frequentam escolas públicas.
Como assinala o manifesto assinado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), à qual a APEOESP é filiada, juntamente com dezenas de outras entidades nacionais e estaduais “Estes jovens e adultos são obrigados a ir à luta todos os dias, muitos dos quais em espaços precários de trabalho, mesmo durante a situação atual. Estar fisicamente na escola e contar com a presença de professores, na exígua carga horária de 800 horas-anuais, é o mínimo que o país tem que oferecer aos jovens e adultos brasileiros antes de submeterem-se ao maior exame público e nacional que demarca o futuro de milhões de brasileiros”.
Não podemos admitir que este Ministro da Educação, cujo comportamento faz jus ao perfil de um governo como o de Jair Bolsonaro, continue agredindo a população e atuando contra os interesses da juventude e da nação brasileira, sempre ao lado dos privilegiados. Por isso, somo minha voz a de todos os que exigem o adiamento do Enem, definindo-se a nova data a partir do momento em que for superada a fase crítica da pandemia do coronavírus que estamos enfrentando.
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Professora Bebel, presidenta da Apeoesp, Deputada Estadual pelo PT