É lixo demais!

José Renato Nalini

 

O consumismo tornou a civilização incivilizada. Ou seja: os humanos parecem não se importar com o desperdício. Absorveram a cultura do descarte. Produzem resíduos sólidos em quantidade inimaginável e, com isso, apressam o final dos tempos.

Não é catastrofismo. Só o Estado de São Paulo, produz mais de 61 toneladas de lixo por dia. Quase 80% desse material é destinado a aterros sanitários. Não há cálculo sobre a percentagem do que poderia ser reaproveitado e gerar economia. Com expressivo benefício para o sofrido ambiente.

Em países do primeiro mundo, existe uma logística reversa de aproveitamento de praticamente tudo o que a indústria produz. Na Escandinávia, por exemplo, não existem “desmanches” de carro. Quem fabrica um veículo tem a obrigação de acompanhar a sua vida útil e de se encarregar do descarte final – aproveitamento na indústria de origem – sem onerar a qualidade de vida.

Aqui, há um abuso resultante de ignorância e de impunidade. As pessoas costumam se comportar de forma egoística e jogam tudo aquilo que não interessa mais em qualquer espaço. Não há lugar em que inexista esse testemunho da falta de postura cívica. Sintoma de desrespeito em relação a si mesmo – quem gosta de viver no lixo? – ao próximo e à natureza.

Algo que parece insignificante mas tem consequências é o hábito de se entregar folheto nas ruas movimentadas. Inúmeros jovens abordam os transeuntes e impingem propaganda variada, seja para anunciar conserto de celulares, seja para lançamento de unidades imobiliárias ou refeições para satisfazer os milhões que trabalham longe de casa e têm de almoçar em restaurantes.

É comum que as pessoas apanhem o material e logo adiante se livrem dele, lançando-o… na rua! Isso vai parar em bocas de lobo, depois em rede de esgoto, em curso d’água e nos nossos defuntos rios.

O grau civilizatório de um país se afere também pelo trato conferido ao resíduo sólido que produz. Nações adiantadas sabem aproveitar detritos para geração de energia, adubo, o que se converterá em mais emprego e renda para a população.

Outro pecado brasileiro: desperdiça-se quantidade de alimento que nutriria enorme contingente populacional. Não existe uma logística inteligente de aproveitamento das sobras e a proteína que falta na mesa do faminto vai parar num lixão!

Estamos longe de condições minimamente razoáveis. O pior é que já nem sabemos nos indignar com a sujeira que nos cerca. Preste atenção por onde você passa, antes de concluir que há exagero nesta reflexão.

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José Renato Nalini, desembargador aposentado do TJSP, do qual foi presidente em 2014-2015, reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL)

 

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