Felipe Menezes
Mais uma vez a Prefeitura! Na ânsia de dar uma resposta ao estado de pandemia, a secretaria de cultura atropelou o bom senso. Explico: Rosângela Camolese se reuniu com Barjas e pediu autorização para lançar um edital emergencial para artistas da música e das artes cênicas da cidade. Barjas, por sua vez, autorizou. Até aí, tudo certo.
O problema é que nunca para por aí, né? Mas, antes um detalhe: essa ideia de atender emergencialmente aos artistas não saiu da cabeça da Rosângela. Muito pelo contrário, a ideia foi de um grupo de artistas ligados à música – que correram pedir ajuda dada a impossibilidade de realizar shows pelos bares da cidade por conta da quarentena. Rosângela tentando atender aos pedidos dos músicos (e de outros que certamente engrossariam o coro) foi rapidamente pensando em uma maneira antes que esses começassem a fazer barulho – o que é perfeitamente compreensível. A única fonte de renda de muito desses artistas advém de seus trabalhos na noite. Além do que não seria uma boa hora para Barjas confrontar com o setor da cultura nesse momento em que é sabido que ele quer se reeleger como prefeito. Vale lembrar que no dia da posse, Barjas foi surpreendido por trabalhadores da cultura que protestaram contra a junção da secretaria de cultura com a de turismo. Neste mesmo dia, Rosângela foi até a porta da Câmara, mas quando presenciou artistas prestes a protestar, deu meia volta e não ficou para a cerimônia de posse. Risos à parte, voltemos ao assunto principal. A Camolese, de uma forma ligeira, se lembrou da grana do Fundo de Apoio à Cultura e decidiu montar um edital (concurso público de tipo prêmio) para que esses artistas pudessem se inscrever e pleitear uma grana para não passar fome nos próximos meses. Fosse assim, a história seria bem contada. Só que não.
O edital prevê selecionar 28 projetos e pagar R$1.800,00 para cada um deles, totalizando uma quantia irrisória de 42 mil reais. Agora começa a areia movediça desse edital. Nesse valor, o artista precisa desembolsar uma grana para pagar um contador, pagar por uma assessoria de imprensa, pagar por um design gráfico, além de ter descontado alguns impostos obrigatórios. Talvez, e muito talvez, pudesse sobrar uns R$300 a R$500 reais para desenvolver o projeto em si. Um completo absurdo. O nome disso é precarização do trabalho. Em tempos de bolsominions é preciso sublinhar: esse dinheiro de socorro é para o artista trabalhar!
Mas, a areia movediça não para por aí.
Embora público, o edital lançado priva outras linguagens artísticas de participação. Neste edital não foram pensados auxílios para artistas de outras áreas como o das culturas populares, das artes visuais, do audiovisual. Será que esses artistas não precisam de trabalhar? Será que esses também não foram impedidos de trabalhar por conta da pandemia?
Mas, a areia movediça não para por aí. De novo. E de novo.
Como tem sido uma praxe dessa gestão cultural, esse edital, a exemplo dos anteriores, prima pelo excesso de burocracia para os artistas inscreverem seus projetos. São tantos documentos solicitados que um pregão presencial fica no chinelo. O fascínio da SemacTur pela burocracia tem sido, como dissemos, a marca indelével dessa gestão rosangeliana. O que esses burocratas não entendem é que a burocracia é por si só um fator de exclusão gigantesco. Mas, os burocratas da SemacTur, incluindo a secretária, vivem se justificando dizendo que a culpa é da Secretaria de Finanças, que são ordens do Admir.
Eis aí o contraditório da sentença: a ideia é boa mas, de novo, a gestão tropeça nos mesmos erros: o de ser excludente, o de sempre privilegiar algumas áreas em detrimento de outras e as péssimas assessorias de dentro da Secretaria.
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Felipe de Menezes, membro da Frente das Culturas de Piracicaba