Coronavírus: não é hora de flexibilizar

Paulo Roberto Botão

A vida dos cidadãos piracicabanos corre risco, pois a taxa média de isolamento social na cidade é de apenas 47%, pouco mais da metade dos 70% considerados ideais. O dado, que se refere ao período de 05 de março a 20 de abril, é preocupante, e deveria colocar as autoridades municipais em alerta, fazer com que intensificassem a fiscalização da quarentena e ampliassem a conscientização da população sobre a importância de ficar em casa.
Entretanto, o que se viu nesta quarta-feira, 22 de abril, foi o contrário. Dois decretos assinados pelo prefeito Barjas Negri, com a finalidade de estabelecer novas diretrizes durante o combate à pandemia Covid-19, ampliam no número de estabelecimentos e atividades que poderão voltar a funcionar na cidade.
De acordo com os decretos, nesta nova fase da quarentena poderão funcionar: óticas (atendimento a óculos e lentes de contato), cabeleireiros, barbeiros, manicures e estabelecimentos de tratamento estético, assim como profissionais liberais, entre os quais dentistas, fisioterapeutas, advogados, engenheiros, psicólogos, contadores, entre outros.
Os decretos definem uma série de medidas restritivas em relação ao número de pessoas nos estabelecimentos, necessidade de horário marcado, uso de máscaras (para profissionais e clientes) e luvas, além da disponibilidade de álcool em gel 70%. Neste sentido, deixam mais claras as regras a serem observadas pelos estabelecimentos que funcionarem.
A edição dos decretos ocorre dois dias depois de uma reunião entre o prefeito e empresários da cidade, representantes de entidades patronais, que pressionaram pela flexibilização da quarentena. Entre as reivindicações das entidades estava inclusive a abertura do comércio de forma generalizada, em horário reduzido e respeitadas normas de “segurança”.
O prefeito faz muito bem ao não atender o pleito principal, que vai na contramão do que recomendam as autoridades sanitárias e médicas do mundo todo. Mas, retrocede em relação ao decreto inicial de março, ao autorizar o funcionamento de mais setores. Justifica que esta decisão é tomada com a ciência do Ministério Público e em acordo com orientações do próprio STF.
A pressão exercida pelas entidades empresariais vai na contramão da defesa da vida. Com o comércio fechado, os índices de isolamento em Piracicaba já são baixos, o máximo atingido na cidade foi de 56%, e a quantidade de casos da doença só cresce. O que deverá acontecer se os comerciários forem obrigados a voltar as seus postos de trabalho, a grande maioria usando transporte público?
Ao invés de pressionar o governador e os prefeitos, para reduzir o isolamento social, essas entidades deveriam concentrar seus esforços em exigir, do Governo Federal, mais medidas de crédito, de proteção à indústria e ao comércio e, nesta medida, aos empregos.
Aos governantes locais, prefeito e seus secretários, Câmara e seus vereadores, cabe agirem com rapidez e rigor para impedir que aumente o número de contaminados. Deveriam ampliar os mecanismos de fiscalização sobre o cumprimento da quarentena e, ao mesmo tempo, a conscientização da população de Piracicaba sobre a importância do isolamento.
Todos sabemos que a notificação da doença ocorre com atraso e que a cidade ainda está longe de atingir o pico de casos. Os números, portanto, tendem a aumentar, assim como a pressão sobre os serviços de saúde.
A preservação da vida deve ser prioridade. A economia pode ser recuperada depois. O que nos cabe, como cidadãos, é exigir das autoridades o compromisso com as orientações das organizações mundiais de saúde e o apoio às populações mais carentes.
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Paulo Roberto Botão, jornalista, mestre em Comunicação Social. coordenador do Curso de Jornalismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba)

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