Vitor Pires Vencovsky
A história do Brasil está muito relacionada à história da exploração da terra para a produção de alimentos e de outras riquezas da natureza. Com raras exceções, foi pela agricultura que o país se organizou e se inseriu internacionalmente em vários momentos de sua história. A ocupação do território, partindo do litoral para os vastos espaços disponíveis no interior, aconteceu pelo desbravamento de novas terras voltadas para a agricultura e pecuária, que foi a atividade que o brasileiro desenvolveu além do extrativismo.
Há diversas formas de entender a história da ocupação e exploração da terra no país. Numa abordagem mais geral, é possível organizar essa ocupação em três grandes períodos. Do descobrimento à década de 1930, a sociedade brasileira era considerada agroexportadora, ou seja, as atividades eram realizadas predominantemente para atender as demandas de produtos agrícolas pelos países europeus. Nos 50 anos seguintes, as prioridades se alteraram e a sociedade passou a se organizar para abrir fábricas. Foi o momento em que a agricultura ficou em segundo plano e as indústrias ganharam espaço nas políticas públicas. A partir da década de 1990, as prioridades se alteraram novamente e a agricultura, renomeada como agronegócio, passa a se destacar novamente.
Outra forma muito utilizada para entender a história do país é aquela que organiza os diferentes momentos através de ciclos. Até o início do século XX, o país passou por diversos ciclos econômicos, tais como do pau-brasil, da cana-de-açúcar, da borracha, do ouro e do café. Nessa mesma lógica, é possível afirmar que o ciclo atual é o da soja e do minério. Mas essa representação é muito simplificada e contribui mais para explicar o que de mais significativo em termos econômicos está acontecendo no país.
Na escala regional, no entanto, a história se realizou de forma diferente. As realidades da produção agrícola no país são muito particulares de cada região, permitindo considerar que cada uma delas tem sua própria história. De uma forma geral, essas regiões se especializaram em determinados produtos agrícolas e permaneceram organizadas dessa forma por longos períodos.
A região cafeeira de São Paulo do século XIX, por exemplo, se transformou em canavieira no século XX. Atualmente, Minas Gerais é a principal região produtora, com 53% do total de café produzido no país. Na década de 1970, Rio Grande do Sul e Paraná representavam 81% do total produzido de soja. Atualmente, o Centro-Oeste é a região com maior produção e exportação desse grão. As regiões produtoras de milho também se alteraram nas últimas décadas. Paraná perdeu a posição de maior estado produtor para o Mato Grosso.
A produção de uva também ocupou outras regiões do país. Pernambuco passou a produzir recentemente 50% do volume produzido pelo Rio Grande do Sul, estado que sempre liderou a produção de uva. A produção de borracha de seringueira está crescendo no pais, com destaque para o Estado de São Paulo. A produção de cacau, que tradicionalmente é realizada na Bahia, está em queda.
É importante considerar que a história que estamos registrando sobre o agronegócio é muito simplificada. A história geral, que procura destacar os grandes números de produção e exportação do agronegócio, não representa, necessariamente, o que acontece em cada região do país. As realidades locais são muito particulares.
Vitor Pires Vencovsky, engenheiro, presidente da Academia Piracicabana de Letras; e-mail: [email protected]