Vitor Pires Vencovsky
Sempre que o mundo passa por uma grande tragédia, mudanças acontecem nas relações entre países envolvendo questões políticas, econômicas e sociais. Foi mais ou menos isso que aconteceu quando a Segunda Guerra Mundial terminou em 1945. Para reorganizar estas relações, importantes instituições foram criadas, tais como Organização das Nações Unidas (ONU), Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Com objetivos muito parecidos, em 1961 foi fundada a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Estas instituições passaram a desenvolver uma série de programas visando restabelecer a economia mundial e promover a redução das desigualdades sociais em diversos países.
As transformações e melhorias propostas pelas instituições citadas exigiam um melhor conhecimento das condições econômicas e sociais dos países, possível através do uso de uma série de teorias econômicas. A mais debatida e utilizada na segunda metade do século XX foi a teoria do desenvolvimento econômico. Um dos resultados práticos dos diversos estudos realizados foi a classificação dos países em “subdesenvolvidos”, “em desenvolvimento” e “desenvolvidos”. A ideia original estabelecia que, através da implantação de programas específicos, os países poderiam passar de um estado de desenvolvimento para outro, o seja, de “subdesenvolvidos” para “em desenvolvimento” e, em seguida, “desenvolvidos”.
O economista Celso Furtado foi o grande estudioso e influenciador da teoria do desenvolvimento ou do subdesenvolvimento no país. Seus estudos publicados nos livros Formação econômica do Brasil (1959) e Desenvolvimento e subdesenvolvimento (1961) mostraram que as teorias propostas não se aplicavam ao Brasil e tantos outros países considerados periféricos. Para ele, a condição de subdesenvolvimento era o resultado de condições históricas em que predominavam a dependência desses países frente às economias já desenvolvidas. Furtado foi um grande crítico da ideia “etapista” ou “faseológica” do desenvolvimento.
Outra teoria muito importante à época destacava que, para a mudança de um estado de desenvolvimento para outro, era fundamental que os países mudassem sua estrutura econômica e social, ou seja, de agrícola para industrial. Na segunda metade do século XX, diversos programas foram criados visando a industrialização de regiões menos favorecidas no Brasil. A Superintendências do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), criado por Celso Furtado, e a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) são dois exemplos de instrumentos de desenvolvimento regional instituídos nas décadas de 1950 e 1960.
Diversos países no mundo, com destaque para os asiáticos, seguiram esse receituário desenvolvimentista após a Segunda Guerra Mundial e investiram na criação de indústrias e em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. Foi a melhor opção para grande parte destes países, principalmente para os que não possuíam recursos naturais e muito menos áreas disponíveis para a agricultura.
Seguindo em direção oposta, a partir da década de 1990 o Brasil optou por se inserir internacionalmente via exportação de commodities agrícolas e minerais. O resultado, depois de 40 anos, é que o agronegócio avançou e as indústrias estabelecidas em períodos anteriores encolheram ou se tornaram filiais de empresas estrangeiras. O país está organizado atualmente para exportar produtos de baixo valor agregado e importar conhecimento. É uma escolha que vai na contramão do que é realizado pelos principais países do mundo.
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Vitor Pires Vencovsky, presidente da Academia Piracicabana de Letras
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