Vitor Pires Vencovsky
É difícil desvincular o tema agronegócio da Floresta Amazônica. A floresta mais importante do mundo está sempre no centro das discussões, levando a debates infindáveis e inconclusivos sobre o que é certo ou errado na condução de sua ocupação. A sua grandiosidade leva à falsa ideia de que a exploração de seus recursos nunca se esgotará, assim como o desmatamento ou ocupação desenfreada não tem relação com a transformação do clima no planeta. As grandes distâncias envolvidas entre localidades, as imensas propriedades existentes, a dificuldade de fiscalização e controle das atividades, praticamente condenam a Amazônia a uma região ingovernável.
Na década de 1980, um professor da disciplina Ecologia da Escola de Engenharia de Piracicaba gostava de destacar em sala de aula que a riqueza dessa floresta estava naquela porção acima do solo, na fauna, na flora, nos microrganismos, ou seja, na biodiversidade. O solo e o subsolo não deveriam ser explorados pelo baixo valor que representavam. Poucos alunos entenderam essa colocação.
O tempo passou e hoje, depois de tantos estudos científicos realizados, está muito mais clara a importância da Amazônia para todos. A floresta tem um papel fundamental na definição das chuvas e do clima em outras regiões do país e do mundo. A biodiversidade é riquíssima e disputada por países e grandes grupos econômicos. A exploração da floresta, considerada, em muitos casos, como biopirataria, abastece diversas indústrias ao redor do mundo, tais como alimentícia, de medicamento e de cosméticos. Faz parte desta exploração uma corrida para patentear produtos e outros recursos encontrados na floresta. O Brasil, infelizmente, está sempre em desvantagem nessa corrida.
Apesar da riqueza que representa, tudo indica que os brasileiros ainda não entenderam a real importância da floresta. Numa parcela significativa da Amazônia Legal, que inclui a região Norte, o estado do Mato Grosso e parte do Maranhão, a substituição da floresta por outras atividades avança. A velocidade do desmatamento não é muito importante, mas a sua continuidade. As novas áreas abertas na floresta são utilizadas, principalmente, para pasto e produção agrícola. Imagens de satélite mostram que a cada década uma parte significativa da floresta é suprimida.
As práticas de ocupação das florestas são muito conhecidas, reproduzindo o que é realizado em todo o território há mais de 520 anos. Os primeiros recursos extraídos são as madeiras de lei. Em seguida, o que restou vira carvão para abastecer siderúrgicas, entre outras atividades. Com a área já aberta, a pecuária ou a agricultura se instala. Essa é a lógica de ocupação econômica que está predominando na Amazônia nas últimas décadas.
Essa realidade revela a dependência histórica do país na exploração das riquezas naturais voltada à exportação de commodities. A sociedade está organizada para seguir por esse caminho, sem grandes questionamentos. As instituições de ensino e pesquisa no país parecem que sabem muito bem como explorar a agricultura, a pecuária, a silvicultura e a extração de recursos naturais do subsolo. Mas o mesmo empenho parece não existir quando se trata da exploração dos recursos biológicos das florestas e dos demais biomas existentes. O valor da Floresta Amazônica é incalculável, mas seguimos explorando-a pelos caminhos mais fáceis e conhecidos.
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Vitor Pires Vencovsky, presidente da Academia Piracicabana de Letras; [email protected]