Camilo Irineu Quartarollo
Do jeitinho brasileiro. Dizem que os brasileiros não são bem vistos no estrangeiro, que vez ou outra surrupiam coisas, que têm modos tropicais não condizentes, que não têm comportamentos de primeiro mundo, que aproveitam de situações para tirar vantagem, etc. É muito que se fala e acho que nós que mais falamos mal de nós mesmos.
No congresso dos Estados Unidos, quando há uma queda de braço entre os democratas e republicanos, sem aprovar o orçamento do Estado, os serviços públicos colapsam, entram numa paralisação, Shutdown na língua deles. Serviços cancelados e funcionários não recebem remuneração. Quando ocorre, quase tudo para no serviço público de lá, a última vez que ocorreu foi em 2013. Nesse ano cerca de 800.000 dos 2,1 milhões de funcionários federais tiveram de ficar em casa sem trabalhar e nenhum desses funcionários recebe seu salário até que reabra o governo e sejam compensados pelos dias sem remuneração. Sete vezes ocorreram esses “apagões” na história americana.
Em 2018, o pivô e ameaça de fechamento do governo americano foi o muro que o Trump prometeu pôr entre os EUA e México, quer verbas para construí-lo e ameaça com o shutdown.
Aqui nossos economistas falam muito bem o inglês, principalmente o de sotaque de Chicago e foi assim que o ministro Paulo Guedes, atual posto Ipiranga de Bolsonaro disse, à brasileira, pois se é bom para os americanos… “”Será um shutdown muito mais suave que o dos Estados Unidos, que param de pagar tudo. Aqui vamos chegar aos servidores e pedir paciência por um tempo, por dois anos. E aí a máquina roda. Com estado de emergência, nenhuma crise fiscal dura mais que um ano e meio”, afirmou, em palestra no evento “Diálogos com o TCU”, organizado pelo Tribunal de Contas da União.
Com todo o respeito, mas essa gente abusa da paciência, hein. Esse discurso de devo, não nego, pago quando puder está se tornando corriqueiro, mas quando se trata de dívida alimentar, salário, corta-se assim!… “um pouquinho de paciência do trabalhador?!”. E diz este ministro que é pela crise fiscal, um ano e meio “apenas”! Pelos prognósticos do ministro, que não tem acertado, a crise fiscal dessa gestão atabalhoada será eterna.
Será que o Paulo Guedes é nosso Trump dos trópicos? Deuzolivre.
Parece que vivemos um fundamentalismo político e econômico no qual o bode expiatório é o PT ou o funcionalismo público; todavia, a economia e a gestão necessária vivem de bons negócios e não de culpar os outros, o resto são descaminhos. O que se vê são bate-bocas e nada mais.
Camilo Irineu Quartarollo é escrevente Judiciário, escritor, diagramador, capista, ilustrador, editor e autor do livro A ressurreição de Abayomi