José Renato Nalini
A Europa é chamada “O Velho Mundo”. E os idosos, presume-se, adquirem sapiência. Têm vivência e experimentaram de tudo o que aconteceu no mundo nos últimos mil anos, pelo menos.
Por isso é que a esperança do verde brasileiro está na União Europeia. Ela observa com espanto o retrocesso nacional em termos de proteção da ecologia. Aquilo que deveria ser o maior cacife pátrio no relacionamento com outras Nações, é desperdiçado pelos próprios brasileiros. Desperdiçam o que renderia fortuna se bem aproveitado. Em termos de biodiversidade, em termos de turismo, em termos de preservação, para que o mundo não se acabe antes do que deveria, por incúria e ignorância da espécie humana.
Quem não sabe cuidar daquilo que tem, a perder vem. No que tange à ecologia, os europeus têm exata noção do que ela significa para o futuro da humanidade. Por isso é que a França condiciona a concretização do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, a “ações concretas e resultados”. Sabe que não pode confiar em promessas verbais, diante do catastrofismo propiciado pelo “liberou geral” emitido por quem deveria ser o primeiro a zelar pela floresta.
Agora não há mais tergiversar em relação ao Acordo de Paris sobre o clima, firmado em 2015. O respeito às normas ambientais, que deveria decorrer de mera observância do artigo 225 da Constituição da República, será um dos principais itens da agenda de avaliação francesa a respeito da viabilidade do novo ajuste. Não bastam compromissos formais. A França analisará as ações concretas e os resultados obtidos. Talvez seja um freio à farra do extermínio do verde, principalmente na Amazônia.
O Brasil se comprometeu a honrar o Acordo de Paris e também a replantar 12 milhões de hectares de floresta até 2030. É melhor começar logo. Também estão atentos os franceses, à liberação indiscriminada de herbicidas, os agrotóxicos que mudam o rótulo, mas continuam perigosos. Para quem usa, o trabalhador do campo, e também para quem consome produtos que se serviram desses venenos.
A França exerceu enorme influência sobre o Brasil durante séculos. O francês era obrigatório para famílias diferenciadas. A moda, a cultura, o refinamento, o protocolo, a política. Tudo era inspiração da Pátria de Rousseau e Montesquieu. Se isso esmaeceu nas últimas décadas, agora volta com força e para proteger um patrimônio essencialmente brasileiro, ao qual os brasileiros parecem não dar valor. Se dessem, estariam indignados pelas ruas, exigindo respeito à natureza.
De qualquer forma, é bom que os ufanistas se acautelem. A França está de olho em nós. E por que não os demais países europeus, que têm exata noção do que significa a destruição da natureza?
José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL) – 2019-2020