Agronegócio em jogo – Muito além das porteiras

Vitor Pires Vencovsky

 

A visita da ministra da agricultura Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias no dia 14 de janeiro de 2020 para a formatura de alunos da tradicional e conceituada Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), em Piracicaba (SP), gerou grandes debates nas mídias impressa e digital. Uma aluna realizou seu pronunciamento em tom crítico ao atual governo, provocando um espanto geral pelo ineditismo da situação. Este acontecimento mostra que o agronegócio, apesar de ser um assunto muito divulgado, não está devidamente apresentado para a sociedade brasileira. Então, afinal, o que realmente quer dizer o agronegócio brasileiro?

A coluna “Agronegócio em jogo”, que está iniciando hoje na A Tribuna Piracicabana, irá tratar de uma série de questões para tentar ajudar a responder esta pergunta. De uma forma geral, aprendemos na escola que o agronegócio representa todas as atividades antes, dentro e depois da porteira, finalizando com a entrega de diversos produtos na prateleira dos consumidores. É mais ou menos isso que apresenta a campanha “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”, amplamente veiculada pela Rede Globo. No ambiente universitário, no entanto, agronegócio é um assunto muito mais complexo, analisado a partir de diversas áreas do conhecimento, sejam elas exatas, humanas ou biológicas.

O senso comum procura resumir e simplificar o tema agronegócio em uma frase, destacando os pontos positivos relacionados à participação do setor no PIB nacional, na geração de empregos e na pauta de exportações. Mas, uma parcela significativa de pesquisadores, formados por mestre, doutores e pós-doutores, muitos deles reconhecidos e premiados nacionalmente e internacionalmente, mostram outras questões relacionadas ao agronegócio. É preciso respeitar todas as pesquisas e pesquisadores, caso contrário, as realidades complexas nunca serão entendidas.

O constrangimento verificado na formatura na ESALQ mostra que falta diálogo entre os pesquisadores. Se uma realidade é dividida em diferentes áreas do conhecimento para facilitar o seu entendimento, num determinado momento é preciso que os pesquisadores reúnam todos os resultados das pesquisas para que esta realidade seja entendida em sua plenitude. A falta de diálogo entre os pesquisadores é, provavelmente, o grande problema da ciência brasileira. Sem esse diálogo, algumas áreas do conhecimento passam a dominar os discursos, as políticas públicas e os orçamentos governamentais, passando para a sociedade uma visão simplista de realidades muito complexas.

O que aprendemos com o episódio na ESALQ nesse início de ano é que a formatura de alunos não é o momento adequado para dialogar sobre um assunto tão importante. A cidade de Piracicaba, para se manter como protagonista na área do conhecimento, deveria realizar eventos para discutir o tema agronegócio, convidando pesquisadores das mais variadas especialidades. Quem sabe, desta forma, a sociedade poderá entender o verdadeiro significado do agronegócio e sua contribuição para o país.

 

Vitor Pires Vencovsky, engenheiro, presidente da Academia Piracicabana de Letras; e-mail: [email protected]

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